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Por: Rosângela Regiani
Psicóloga com especialização em Gestão de Pessoas, formação em Psicologia Tranpessoal, Psicodrama,MBA em Recursos Humanos e Terapeuta de EMDR
Palestina-SP/Brasil

Sou funcionária pública municipal e em maio de 2009 passei a cumprir minha carga horária de trabalho exclusivamente no SUS. Quando pensamos em SUS… logo vem o pensamento: ”demora em atendimento”! Mesmo morando em uma cidade de dez mil habitantes do interior de São Paulo, aqui em Palestina não é diferente das grandes cidades! Confesso que, no inicio, me incomodou muito o fato de ter tantas pessoas procurando o atendimento psicológico e não ter vaga disponível. Essas pessoas sempre acabavam na lista de espera, até que surgisse uma oportunidade para fazer a terapia.

Eu me sentia de pés e mãos atadas, porque na maioria eram casos de trauma com T maiúsculo (como dizemos no EMDR), seguidos de depressão!

Em uma conversa informal com o Coordenador do Departamento de Saúde, propus a ele que, durante duas horas por semana, faria uma triagem com essas pessoas que procuravam ajuda, para ouvi-las e orientá-las e, caso necessário, faria o encaminhamento para a psiquiatria no Hospital de Base de São José do Rio Preto, pois aqui não temos médico com essa especialidade. Enquanto os pacientes permanecem na lista de espera para a psicoterapia, já estariam adequadamente medicados e conseqüentemente com os sintomas da depressão mais suportáveis e prontos para fazer o tratamento, e assim foi feito. Nessa triagem, em dia previamente agendado, eu converso com eles e, se necessário, aplico o teste Escala Beck e em casos de crianças ou adolescentes aplico o teste ESI – Escala de Stress Infantil e também faço entrevista com a mãe. A lista de espera foi dividida em categorias: pacientes encaminhados para psiquiatria, crianças e adolescente, adultos e conselho tutelar, este último relacionado a atendimento psicológico para crianças e adolescentes atendidas por essa entidade. Quando surge uma vaga, dou prioridade aos casos mais graves para preenchê-la.

As sessões de terapia primeiramente eram realizadas uma vez por semana. Como a fila de SUS não parava de crescer, acreditei que se eu atendesse o paciente duas vezes na semana, ele teria acesso mais rápido ao seu conteúdo interno, minimizando seu sofrimento, e esperaria menos tempo pelo atendimento, de forma que a lista de espera teria uma maior rotatividade.

Aplico o protocolo de EMDR em sessões de quarenta e cinco a cinqüenta minutos, dividas em etapas; nas duas primeiras sessões faço a história clínica, preparação do cliente e a avaliação. Já aconteceu de usar mais de uma sessão para terminar esta fase, pois a clientela de SUS geralmente é composta por pessoas com baixo nível sociocultural e só depois inicio a fase de dessensibilização trabalhando com sessões incompletas.

Fiz uma experiência inicial com quatro pacientes, ambos com depressão grave, ansiedade grave, pessimismo grave. Dois com tentativa de suicídio e dois com pensamentos suicidas. Ofereci vinte e duas sessões, na frequência de duas vezes por semana. Antes de iniciar o tratamento, o paciente assina, além do contrato terapêutico, um termo onde ressalta que serão permitidas apenas quatro faltas, justificadas ou não.

Um paciente desistiu do tratamento. Entre os que permaneceram, pude perceber que apresentaram significativas melhoras e já na oitava sessão relatavam as mudanças e diziam que os familiares percebiam essa melhora; chegavam mais animados para terapia, sem contar que começaram a faltar “sem necessidade” pelo fato de ter o direito de cometer as quatro faltas! Reduzi o numero de sessões para dezesseis, levando em consideração que cada caso é um caso, e tenho trabalhado com esse numero atualmente e conseguido bons resultados. Quanto ao numero de faltas, reduzi para três. Utilizo como instrumento de avaliação, os testes Beck e ESI que além da triagem, também aplico durante e no final das dezesseis sessões.

No término do tratamento dou ao paciente uma carta, constando os resultados da aplicação do teste, incluindo o realizado na triagem. Peço para entregar ao seu psiquiatra no próximo retorno. Já teve caso do psiquiatra não aceitar a alta em psicoterapia, por falta de conhecimento do EMDR. Diante deste episódio sempre mando um foolder junto com esta carta, como uma forma de divulgar o trabalho em EMDR, e já obtive resultados depois desta iniciativa. Um psiquiatra disse: “Um tratamento desse nível oferecido no SUS??? Interessante este método, eu não conhecia”! Com a aplicação do EMDR em pacientes do SUS, pude constatar que mais pessoas se beneficiarão em um menor espaço de tempo, pois cada paciente ocupará a vaga de terapia por um período de aproximadamente dois meses, ao passo que em uma terapia convencional o paciente para receber alta levaria o dobro de tempo, quando não o triplo. Não restam duvidas que o EMDR contribui para minimizar a fila de espera do SUS e que um número maior de pessoas receberiam tratamento psicológico gratuitamente, principalmente em uma época em que percebo que os profissionais da área da saúde, da educação, enfim as pessoas, a cada dia acreditam e procuram mais e mais o trabalho do psicólogo.