por Daniel Gabarra | fev 25, 2010 | blog, qualidade de vida
Um dia desses, li no Blog do Dom Pepone uma reportagem da Folha de São Paulo intitulada Médicos revelam que eutanásia é prática habitual em UTIs do país.
Infelizmente, do meu ponto de vista, o texto confunde os dois conceitos. Frequentemente a ortotanásia é confundida com a eutanásia. Então resolvi começar conceituando um pouco:
Eutanásia*: é a prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo incurável de maneira controlada e assistida por um especialista.
Ortotanásia: é o termo utilizado pelos médicos para definir a morte natural, sem interferência da ciência, permitindo ao paciente morte digna, sem sofrimento, deixando a evolução e percurso da doença.
Distanásia: é a prática pela qual se continua, através de meios artificiais, a vida de um enfermo incurável.
Fonte: Wikipedia
Salvo os limites tênues entre as diferentes práticas (assunto que deve ser discutido), a grande questão ética é: cabe à medicina estender a vida de um ser humano sem com isso dar-lhe conforto, qualidade ou expectativa de melhora? Não poderia ser considerado ‘tortura’ manter a vida de uma pessoa além do seu desejo e das possibilidades do seu corpo?
Do meu ponto de vista, a ortotanásia não deve ser nada além de não praticarmos a distanásia.
Resumindo, para mim a discussão não deveria ser se a ortotanásia deve ser permitida ou não, e sim, quais são os critérios e condições clínicas e éticas sob os quais ela deve ser aplicada.
Legislações sobre ortotanásia:
Legislação de São Paulo – 1999 – Insisos XXIII e XXIV do Artigo Segundo
resolução do CFM – 2006
Projeto de Lei Federal – 2009
* Ainda encontrei na wikipedia uma diferenciação entre eutanásia ativa e passiva. Mas na verdade me soou mais como uma tentativa de chamar a ortotanásia de eutanásia. Quando digo ‘soou’, é exatamente isso, pois nunca tinha ouvido falar dessa diferenciação antes.
por Daniel Gabarra | fev 23, 2010 | blog, dor
Link não mais disponível: http://www.4therapy.com/consumer/conditions/article/9533/614/Phantom+Limb+Pain
Por: Michelle Gottlieb, Psy.D., MFT
A dor em membro fantasma é uma das mais bizarras e desconfortáveis situações no campo da medicina. Ela acontece quando a pessoa permanece sentindo a dor de um membro amputado ou perdido em um acidente. A medicina se esforça há anos para lidar com isso da melhor forma. Houveram progressos, mas não o suficiente.
A dor de membro fantasma também pode ser encontrada em sobreviventes de câncer de mama que sofreram mastectomia. As pessoas relatam esse fenômeno depois de terem seu órgão removido. Os neurologistas têm algumas teorias sobre o porquê desse fenômeno, mas aqui também não ocorreram grandes descobertas.
Esse problema fica ainda mais evidente quando tratamos veteranos de guerra que lutaram contra a perda de seu membro e ao trauma relacionado.
Recentemente estive em uma conferência sobre EMDR, um tipo de terapia de trauma na qual que venho trabalhando nos últimos 9 anos. Eu realmente gosto de trabalhar com o EMDR por duas razões: existem várias pesquisas a respeito e ele realmente funciona! Tive contato com relatos do uso do EMDR em pessoas com dor de membro fantasma. E elas apresentaram resolução da dor! Eu fiquei surpresa e procurei ler as pesquisas sobre o assunto. E elas tiveram o mesmo resultado. Em algumas poucas sessões, a pessoa que sofre dessa dor há anos já não mais sofre o incômodo.
Eu fiquei fascinada com isso,de forma que iniciei um projeto de pesquisa com mulheres que sofrem de dor de membro fantasma relacionada à mastectomia. Se você ou alguém que você conhece sofre de dor de membro fantasma e gostaria de participar de um estudo, por favor, me ligue (USA +1) 714-879-5868×5. Se você ou alguém que você conhece sofre de dor de membro fantasma e gostaria de um tratamento, ligue no mesmo número.
Existe tratamento. Não deixe ninguém te convencer de outra coisa.
por Daniel Gabarra | fev 22, 2010 | blog, relação terapêutica
Conheci o texto abaixo no seguinte Blog Teia de Ideias:
“Não me deixe rezar por proteção contra os
perigos, mas pelo destemor em enfrentá-los.
Não me deixe implorar pelo alívio da
dor, mas pela coragem de vencê-la.
Não me deixe procurar aliados na batalha
da vida, mas a minha própria força.
Não me deixe suplicar com temor aflito
para ser salvo, mas esperar paciência para
merecer a liberdade.
Não me permita ser covarde, sentindo sua
clemência apenas no meu êxito, mas me deixe
sentir a força de sua mão quando eu cair.“
Rabindranath Tagore
Essa reflexão me fez pensar nas expectativas das pessoas em relação à terapia e em como o processo terapêutico se inicia.
Muita gente procura a terapia esperando uma resposta mágica que resolva os problemas de sua vida. Ainda existem aqueles que nos procuram esperando uma orientação, um conselho, um passo a passo de como fazer ou seguir. É claro que, eventualmente, existem orientações ou esclarecimentos, mas, em essência, a psicoterapia busca exatamente o que o texto nos coloca. Ajudar a pessoa a entender e lidar com o ambiente e os sentimentos que a cercam. Assim o próprio sujeito terá melhores condições de lidar e responder às suas dificuldades. Mas apenas ele poderá tomar as novas atitudes em sua vida.
por Daniel Gabarra | fev 19, 2010 | blog, emdr, relação terapêutica, resposta terapêutica
Depois de me falarem da reportagem da Veja: A conquista da memória, fui conferir.
A discussão que me levou a ler a reportagem girava em torno da perspectiva de uma terapêutica medicamentosa para apagar memórias. Além das questões colocadas pelo próprio texto, como as outras memórias que também poderiam ser apagadas e o efeito colateral disso, penso em algo simples como um acidente de carro. Junto com o trauma do acidente, o motorista perderia a memória de seus possíveis erros e, consequentemente, não aprenderia a evitá-los. Ainda fiquei me perguntando:
Será que adiantaria simplesmente apagar a memória?
Qual será o real impacto disso no comportamento do sujeito?
Isso realmente apagaria o trauma?
Lembro-me de quando os antidepressivos e ansiolíticos foram descobertos. Acreditava-se que tínhamos descoberto a fórmula da felicidade. Na prática sabemos da importância dessa medicação, mas também sabemos que em geral elas apenas controlam um sintoma e que a terapia é fundamental para a efetiva mudança de comportamento.
Eu até preferiria achar que esse meu pensamento é de excessivo cuidado e um pouco retrógrado. Mas em se tratando de comportamento humano, dificilmente o caminho mais fácil é o melhor ou o mais eficiente. Um exemplo disso é o EMDR. Quando ouvi falar dele pela primeira vez, me soou meio mágico e essa mesma preocupação de que um caminho fácil seria pouco efetivo me veio ao pensamento. Com o tempo e prática, descobri o quanto o EMDR é realmente eficiente, mas não diria que ele é fácil, nem para o terapeuta, nem para o cliente. Ele tende sim a acelerar o processo, mas nem por isso o torna fácil.
O que me remete aquele ditado popular: O barato sai caro!!!
por Daniel Gabarra | fev 18, 2010 | blog
Fonte: Health SA Gesondheid, June, 2002 by Elzabe Peters, Marie P. Wissing, Wynand F. du Plessis
Link: http://findarticles.com/p/articles/mi_6820/is_2_7/ai_n28133122/?tag=content;col1
A Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares (Eye Movement Desensitization and Reprocessing – EMDR) foi desenvolvido em 1987 e teve seu efeito comprovado no tratamento de distúrbios psicológicos baseados em memórias traumáticas. Nossa hipótese é de que o EMDR possa ser usado em pacientes traumatizados pelo diagnóstico e/ou tratamento de câncer, sendo indicado para o tratamento das respostas subjetivas e níveis de depressão, ansiedade, satisfação com a vida, balanço do afeto positivo e negativo além do senso de coerência. Com o objetivo de testar essa hipótese realizamos um estudo no qual três casos foram tratados com EMDR e outros três com método de suporte. A coleta de dados foi realizada através de entrevistas estruturadas, instrumentos de mensuração quantitativa e entrevistas por um validador externo. Encontramos resultados consistentemente favoráveis ao EMDR. O resultado confirma a eficácia clínica do EMDR tanto nas mensurações objetivas quanto subjetivas.
por Daniel Gabarra | fev 11, 2010 | blog, emdr, sus
Por: Rosângela Regiani
Psicóloga com especialização em Gestão de Pessoas, formação em Psicologia Tranpessoal, Psicodrama,MBA em Recursos Humanos e Terapeuta de EMDR
Palestina-SP/Brasil
Sou funcionária pública municipal e em maio de 2009 passei a cumprir minha carga horária de trabalho exclusivamente no SUS. Quando pensamos em SUS… logo vem o pensamento: ”demora em atendimento”! Mesmo morando em uma cidade de dez mil habitantes do interior de São Paulo, aqui em Palestina não é diferente das grandes cidades! Confesso que, no inicio, me incomodou muito o fato de ter tantas pessoas procurando o atendimento psicológico e não ter vaga disponível. Essas pessoas sempre acabavam na lista de espera, até que surgisse uma oportunidade para fazer a terapia.
Eu me sentia de pés e mãos atadas, porque na maioria eram casos de trauma com T maiúsculo (como dizemos no EMDR), seguidos de depressão!
Em uma conversa informal com o Coordenador do Departamento de Saúde, propus a ele que, durante duas horas por semana, faria uma triagem com essas pessoas que procuravam ajuda, para ouvi-las e orientá-las e, caso necessário, faria o encaminhamento para a psiquiatria no Hospital de Base de São José do Rio Preto, pois aqui não temos médico com essa especialidade. Enquanto os pacientes permanecem na lista de espera para a psicoterapia, já estariam adequadamente medicados e conseqüentemente com os sintomas da depressão mais suportáveis e prontos para fazer o tratamento, e assim foi feito. Nessa triagem, em dia previamente agendado, eu converso com eles e, se necessário, aplico o teste Escala Beck e em casos de crianças ou adolescentes aplico o teste ESI – Escala de Stress Infantil e também faço entrevista com a mãe. A lista de espera foi dividida em categorias: pacientes encaminhados para psiquiatria, crianças e adolescente, adultos e conselho tutelar, este último relacionado a atendimento psicológico para crianças e adolescentes atendidas por essa entidade. Quando surge uma vaga, dou prioridade aos casos mais graves para preenchê-la.
As sessões de terapia primeiramente eram realizadas uma vez por semana. Como a fila de SUS não parava de crescer, acreditei que se eu atendesse o paciente duas vezes na semana, ele teria acesso mais rápido ao seu conteúdo interno, minimizando seu sofrimento, e esperaria menos tempo pelo atendimento, de forma que a lista de espera teria uma maior rotatividade.
Aplico o protocolo de EMDR em sessões de quarenta e cinco a cinqüenta minutos, dividas em etapas; nas duas primeiras sessões faço a história clínica, preparação do cliente e a avaliação. Já aconteceu de usar mais de uma sessão para terminar esta fase, pois a clientela de SUS geralmente é composta por pessoas com baixo nível sociocultural e só depois inicio a fase de dessensibilização trabalhando com sessões incompletas.
Fiz uma experiência inicial com quatro pacientes, ambos com depressão grave, ansiedade grave, pessimismo grave. Dois com tentativa de suicídio e dois com pensamentos suicidas. Ofereci vinte e duas sessões, na frequência de duas vezes por semana. Antes de iniciar o tratamento, o paciente assina, além do contrato terapêutico, um termo onde ressalta que serão permitidas apenas quatro faltas, justificadas ou não.
Um paciente desistiu do tratamento. Entre os que permaneceram, pude perceber que apresentaram significativas melhoras e já na oitava sessão relatavam as mudanças e diziam que os familiares percebiam essa melhora; chegavam mais animados para terapia, sem contar que começaram a faltar “sem necessidade” pelo fato de ter o direito de cometer as quatro faltas! Reduzi o numero de sessões para dezesseis, levando em consideração que cada caso é um caso, e tenho trabalhado com esse numero atualmente e conseguido bons resultados. Quanto ao numero de faltas, reduzi para três. Utilizo como instrumento de avaliação, os testes Beck e ESI que além da triagem, também aplico durante e no final das dezesseis sessões.
No término do tratamento dou ao paciente uma carta, constando os resultados da aplicação do teste, incluindo o realizado na triagem. Peço para entregar ao seu psiquiatra no próximo retorno. Já teve caso do psiquiatra não aceitar a alta em psicoterapia, por falta de conhecimento do EMDR. Diante deste episódio sempre mando um foolder junto com esta carta, como uma forma de divulgar o trabalho em EMDR, e já obtive resultados depois desta iniciativa. Um psiquiatra disse: “Um tratamento desse nível oferecido no SUS??? Interessante este método, eu não conhecia”! Com a aplicação do EMDR em pacientes do SUS, pude constatar que mais pessoas se beneficiarão em um menor espaço de tempo, pois cada paciente ocupará a vaga de terapia por um período de aproximadamente dois meses, ao passo que em uma terapia convencional o paciente para receber alta levaria o dobro de tempo, quando não o triplo. Não restam duvidas que o EMDR contribui para minimizar a fila de espera do SUS e que um número maior de pessoas receberiam tratamento psicológico gratuitamente, principalmente em uma época em que percebo que os profissionais da área da saúde, da educação, enfim as pessoas, a cada dia acreditam e procuram mais e mais o trabalho do psicólogo.