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Programa de Ajuda Humanitária Psicológica em Niterói

Nos dias 1° e 2 de maio, estive em Niterói participando do Programa de Ajuda Humanitária Psicológica. Já escrevi sobre esse trabalho em outro momento aqui no blog, mas estar lá, conhecendo as metodologias de trabalho em grupo focadas em catástrofes e, principalmente, estar em contato direto com as vítimas foi realmente um oportunidade única. Além das vítimas que perderam suas casas e estão nos abrigos onde realizamos o trabalho, o próprio treinamento foi uma grande intervenção, já que a maioria dos profissionais voluntários eram de Niterói e do Rio. É claro que em menor grau, mas todos sofreram com os acontecimentos e estavam ávidos por ajuda e em ajudar. Muitos deles, inclusive, já estavam atuando e compartilharam o quanto essas novas ferramentas potencializarão e ajudarão a sistematizar o trabalho. Entretanto, o que ficou de mais forte para mim foi a seguinte pergunta: “Estou aqui ajudando em Niterói, mas o que tenho realmente feito sobre esse assunto em minha cidade?” É claro que pretendo voltar a outros lugares que necessitem de apoio. E ainda bem que aqui em Belo Horizonte não tivemos catástrofes daquelas proporções. Mas em vários momentos tivemos problemas que mereciam uma atenção especial. Então, que tal fazer alguma coisa?

Correlato fisiológico para o EMDR

Physiological correlates of eye movement desensitization and reprocessing

Ulf O.E. Elofsson, Bo von Sche`ele, To¨res Theorell, Hans Peter So¨ndergaard

Fonte: Journal of Anxiety Disorders 22 (2008) 622–634

O EMDR é um tratamento estabelecido para o transtorno de estresse pós-traumático (PTSD). Mesmo assim, seu mecanismo de funcionamento não é claro. Este estudo explorou os correlatos fisiológicos dos movimentos oculares, durante o EMDR, em relação às hipóteses atuais; distração, condicionamento, ativação de resposta orientada e mecanismo semelhante ao do sono REM. Durante a terapia de EMDR foram medidos: temperatura da ponta dos dedos, frequencia cardiaca, condutância da pele, nível de carbono expirado, saturação de oxigênio em oximetria de pulso, em homens com PTSD. A relação entre a alta e baixa frequência cardíaca (LF/HF) foram mensuradas como medida de balanço autonômico. A frequência respiratória foi calculada a partir dos traços de dióxido de carbono. A estimulação levou a mudanças no balanço autonômico, indicadas por queda da frequência cardíaca, condutância da pele e relação LF/HF, e aumento da temperatura de ponta do dedo. A frequência respiratória e a pressão expiratória final de dióxido de carbono aumentaram; a saturação de oxigênio decaiu durante a os movimentos oculares. Concluímos que os movimentos oculares durante o EMDR ativam sistema colinérgico e inibem o simpático. A reatividade foi similar com os parâmetros do sono REM.

O EMDR* é uma tábua de salvação?

Outro dia falei da medicação como tábua de salvação. Isso me fez pensar o quanto algumas pessoas encaram o EMDR dessa mesma forma. Por mais rápido e significativo que sejam os resultados do tratamento, ele demanda uma participação e envolvimento muito grande por parte do Cliente. A intensidade das emoções e sentimentos que surgem durante o reprocessamento, muitas vezes são tão intensas quanto no trauma original. A grande vantagem de reexperimentá-las, com o auxílio da estimulação, é o resultado de cessação do estresse e a resolução do conflito entre emoções, sensações, sentimentos e razão.
Buscar o EMDR achando que basta pensar em seus problemas e seguir a estimulação, assim como alguns vídeos do Youtube pregam, é tão equivocado quanto pensar que basta tomar a pílula da felicidade e seus problemas estão resolvidos (isso soou meio Tabajara!!).
O trabalho terapêutico, seja com o auxílio do EMDR, da medicação ou de qualquer outra técnica, só terá resultados efetivos a partir da reorganização dos sentimentos e estratégias de enfrentamento das situações, desencadeando efetiva mudança de comportamento. Afinal de contas, não adianta aguardarmos que o outro (que nos perturba) mude seu comportamento, isso depende dele. O que podemos mudar é nossa forma de encarar a situação e como respondemos a essa pessoa. Este é um convite para buscarmos a felicidade em nós, tendo o outro ao nosso lado, mas jamais como responsável pela nossa felicidade.

* Eye Movement Desensitization and Reprocessing ou Desensibilização e Reprocessamento por Movimento Oculares

Veja, Especial sobre Memória

Depois de me falarem da reportagem da Veja: A conquista da memória, fui conferir.
A discussão que me levou a ler a reportagem girava em torno da perspectiva de uma terapêutica medicamentosa para apagar memórias. Além das questões colocadas pelo próprio texto, como as outras memórias que também poderiam ser apagadas e o efeito colateral disso, penso em algo simples como um acidente de carro. Junto com o trauma do acidente, o motorista perderia a memória de seus possíveis erros e, consequentemente, não aprenderia a evitá-los. Ainda fiquei me perguntando:
Será que adiantaria simplesmente apagar a memória?
Qual será o real impacto disso no comportamento do sujeito?
Isso realmente apagaria o trauma?
Lembro-me de quando os antidepressivos e ansiolíticos foram descobertos. Acreditava-se que tínhamos descoberto a fórmula da felicidade. Na prática sabemos da importância dessa medicação, mas também sabemos que em geral elas apenas controlam um sintoma e que a terapia é fundamental para a efetiva mudança de comportamento.
Eu até preferiria achar que esse meu pensamento é de excessivo cuidado e um pouco retrógrado. Mas em se tratando de comportamento humano, dificilmente o caminho mais fácil é o melhor ou o mais eficiente. Um exemplo disso é o EMDR. Quando ouvi falar dele pela primeira vez, me soou meio mágico e essa mesma preocupação de que um caminho fácil seria pouco efetivo me veio ao pensamento. Com o tempo e prática, descobri o quanto o EMDR é realmente eficiente, mas não diria que ele é fácil, nem para o terapeuta, nem para o cliente. Ele tende sim a acelerar o processo, mas nem por isso o torna fácil.
O que me remete aquele ditado popular: O barato sai caro!!!

EMDR e SUS …Uma experiência!

Por: Rosângela Regiani
Psicóloga com especialização em Gestão de Pessoas, formação em Psicologia Tranpessoal, Psicodrama,MBA em Recursos Humanos e Terapeuta de EMDR
Palestina-SP/Brasil

Sou funcionária pública municipal e em maio de 2009 passei a cumprir minha carga horária de trabalho exclusivamente no SUS. Quando pensamos em SUS… logo vem o pensamento: ”demora em atendimento”! Mesmo morando em uma cidade de dez mil habitantes do interior de São Paulo, aqui em Palestina não é diferente das grandes cidades! Confesso que, no inicio, me incomodou muito o fato de ter tantas pessoas procurando o atendimento psicológico e não ter vaga disponível. Essas pessoas sempre acabavam na lista de espera, até que surgisse uma oportunidade para fazer a terapia.

Eu me sentia de pés e mãos atadas, porque na maioria eram casos de trauma com T maiúsculo (como dizemos no EMDR), seguidos de depressão!

Em uma conversa informal com o Coordenador do Departamento de Saúde, propus a ele que, durante duas horas por semana, faria uma triagem com essas pessoas que procuravam ajuda, para ouvi-las e orientá-las e, caso necessário, faria o encaminhamento para a psiquiatria no Hospital de Base de São José do Rio Preto, pois aqui não temos médico com essa especialidade. Enquanto os pacientes permanecem na lista de espera para a psicoterapia, já estariam adequadamente medicados e conseqüentemente com os sintomas da depressão mais suportáveis e prontos para fazer o tratamento, e assim foi feito. Nessa triagem, em dia previamente agendado, eu converso com eles e, se necessário, aplico o teste Escala Beck e em casos de crianças ou adolescentes aplico o teste ESI – Escala de Stress Infantil e também faço entrevista com a mãe. A lista de espera foi dividida em categorias: pacientes encaminhados para psiquiatria, crianças e adolescente, adultos e conselho tutelar, este último relacionado a atendimento psicológico para crianças e adolescentes atendidas por essa entidade. Quando surge uma vaga, dou prioridade aos casos mais graves para preenchê-la.

As sessões de terapia primeiramente eram realizadas uma vez por semana. Como a fila de SUS não parava de crescer, acreditei que se eu atendesse o paciente duas vezes na semana, ele teria acesso mais rápido ao seu conteúdo interno, minimizando seu sofrimento, e esperaria menos tempo pelo atendimento, de forma que a lista de espera teria uma maior rotatividade.

Aplico o protocolo de EMDR em sessões de quarenta e cinco a cinqüenta minutos, dividas em etapas; nas duas primeiras sessões faço a história clínica, preparação do cliente e a avaliação. Já aconteceu de usar mais de uma sessão para terminar esta fase, pois a clientela de SUS geralmente é composta por pessoas com baixo nível sociocultural e só depois inicio a fase de dessensibilização trabalhando com sessões incompletas.

Fiz uma experiência inicial com quatro pacientes, ambos com depressão grave, ansiedade grave, pessimismo grave. Dois com tentativa de suicídio e dois com pensamentos suicidas. Ofereci vinte e duas sessões, na frequência de duas vezes por semana. Antes de iniciar o tratamento, o paciente assina, além do contrato terapêutico, um termo onde ressalta que serão permitidas apenas quatro faltas, justificadas ou não.

Um paciente desistiu do tratamento. Entre os que permaneceram, pude perceber que apresentaram significativas melhoras e já na oitava sessão relatavam as mudanças e diziam que os familiares percebiam essa melhora; chegavam mais animados para terapia, sem contar que começaram a faltar “sem necessidade” pelo fato de ter o direito de cometer as quatro faltas! Reduzi o numero de sessões para dezesseis, levando em consideração que cada caso é um caso, e tenho trabalhado com esse numero atualmente e conseguido bons resultados. Quanto ao numero de faltas, reduzi para três. Utilizo como instrumento de avaliação, os testes Beck e ESI que além da triagem, também aplico durante e no final das dezesseis sessões.

No término do tratamento dou ao paciente uma carta, constando os resultados da aplicação do teste, incluindo o realizado na triagem. Peço para entregar ao seu psiquiatra no próximo retorno. Já teve caso do psiquiatra não aceitar a alta em psicoterapia, por falta de conhecimento do EMDR. Diante deste episódio sempre mando um foolder junto com esta carta, como uma forma de divulgar o trabalho em EMDR, e já obtive resultados depois desta iniciativa. Um psiquiatra disse: “Um tratamento desse nível oferecido no SUS??? Interessante este método, eu não conhecia”! Com a aplicação do EMDR em pacientes do SUS, pude constatar que mais pessoas se beneficiarão em um menor espaço de tempo, pois cada paciente ocupará a vaga de terapia por um período de aproximadamente dois meses, ao passo que em uma terapia convencional o paciente para receber alta levaria o dobro de tempo, quando não o triplo. Não restam duvidas que o EMDR contribui para minimizar a fila de espera do SUS e que um número maior de pessoas receberiam tratamento psicológico gratuitamente, principalmente em uma época em que percebo que os profissionais da área da saúde, da educação, enfim as pessoas, a cada dia acreditam e procuram mais e mais o trabalho do psicólogo.