A Terapia para Crianças e Adolescentes sempre foi um grande desafio para a Psicologia. Em diversas áreas de formação o público que menos encontramos é de profissionais de referência para o trabalho de atendimento a crianças.
A grande queixa desses profissionais está na dificuldade em obter resultados. E muitas vezes ouvimos da dificuldade em contar com a colaboração dos pais.
Mas estão como obter resultados em uma Terapia cujo o foco é a criança ou o adolescente?
Os pais com certeza querem o melhor para seus filhos. E eles são as pessoas que tem maior autonomia para modificar o contexto físico e relacional da criança. A chave que encontramos para esse processo ser mais proveitoso foi exatamente em transformar os pais em co-terapeutas no atendimento ao filho.
E como isso funciona?
Em primeiro lugar o trabalho é realizado com os pais. Esse trabalho é feito com foco na criança, ou até mesmo com filhos jovens que os pais enfrentam dificuldades. O trabalho funciona como uma espécie de treinamento. Mas a grande diferença aqui é que as estratégias são construídas em conjunto, considerando a realidade de cada família. O resultado dessas estratégias é avaliado a cada sessão e reajustada caso os resultados ainda não sejam os desejados.
E o atendimento a criança?
Bem, o atendimento a criança muitas vezes acaba não sendo necessário, afinal de contas os pais vão ter a oportunidade de melhorar as suas estratégias para potencializar o bem estar de seus filhos. Mas claro que existem situações onde o trabalho diretamente com a criança será importante e ele acontecerá assim que necessário e atrelado ao desenvolvimento dos pais enquanto co-terapeutas de seus filhos.
Outro dia falei da medicação como tábua de salvação. Isso me fez pensar o quanto algumas pessoas encaram o EMDR dessa mesma forma. Por mais rápido e significativo que sejam os resultados do tratamento, ele demanda uma participação e envolvimento muito grande por parte do Cliente. A intensidade das emoções e sentimentos que surgem durante o reprocessamento, muitas vezes são tão intensas quanto no trauma original. A grande vantagem de reexperimentá-las, com o auxílio da estimulação, é o resultado de cessação do estresse e a resolução do conflito entre emoções, sensações, sentimentos e razão. Buscar o EMDR achando que basta pensar em seus problemas e seguir a estimulação, assim como alguns vídeos do Youtube pregam, é tão equivocado quanto pensar que basta tomar a pílula da felicidade e seus problemas estão resolvidos (isso soou meio Tabajara!!). O trabalho terapêutico, seja com o auxílio do EMDR, da medicação ou de qualquer outra técnica, só terá resultados efetivos a partir da reorganização dos sentimentos e estratégias de enfrentamento das situações, desencadeando efetiva mudança de comportamento. Afinal de contas, não adianta aguardarmos que o outro (que nos perturba) mude seu comportamento, isso depende dele. O que podemos mudar é nossa forma de encarar a situação e como respondemos a essa pessoa. Este é um convite para buscarmos a felicidade em nós, tendo o outro ao nosso lado, mas jamais como responsável pela nossa felicidade.
* Eye Movement Desensitization and Reprocessing ou Desensibilização e Reprocessamento por Movimento Oculares
Depois de me falarem da reportagem da Veja: A conquista da memória, fui conferir. A discussão que me levou a ler a reportagem girava em torno da perspectiva de uma terapêutica medicamentosa para apagar memórias. Além das questões colocadas pelo próprio texto, como as outras memórias que também poderiam ser apagadas e o efeito colateral disso, penso em algo simples como um acidente de carro. Junto com o trauma do acidente, o motorista perderia a memória de seus possíveis erros e, consequentemente, não aprenderia a evitá-los. Ainda fiquei me perguntando: Será que adiantaria simplesmente apagar a memória? Qual será o real impacto disso no comportamento do sujeito? Isso realmente apagaria o trauma? Lembro-me de quando os antidepressivos e ansiolíticos foram descobertos. Acreditava-se que tínhamos descoberto a fórmula da felicidade. Na prática sabemos da importância dessa medicação, mas também sabemos que em geral elas apenas controlam um sintoma e que a terapia é fundamental para a efetiva mudança de comportamento. Eu até preferiria achar que esse meu pensamento é de excessivo cuidado e um pouco retrógrado. Mas em se tratando de comportamento humano, dificilmente o caminho mais fácil é o melhor ou o mais eficiente. Um exemplo disso é o EMDR. Quando ouvi falar dele pela primeira vez, me soou meio mágico e essa mesma preocupação de que um caminho fácil seria pouco efetivo me veio ao pensamento. Com o tempo e prática, descobri o quanto o EMDR é realmente eficiente, mas não diria que ele é fácil, nem para o terapeuta, nem para o cliente. Ele tende sim a acelerar o processo, mas nem por isso o torna fácil. O que me remete aquele ditado popular: O barato sai caro!!!
Hoje quero aproveitar para falar o quanto a psicoterapia, em especial o EMDR (mas não apenas), pode trazer bons e rápidos resultados quando temos um problema pontual e um trabalho direcionado. É claro que não quero falar com isso que com duas sessões você terá seu problema resolvido. Mas pra falar a verdade, teve um professor com dificuldade em falar em público, que fizemos o trabalho com EMDR em 3hs. Lógico que isso não é a regra, mas é sim uma possibilidade dependendo da situação. Um pessoa que nunca teve dificuldades para dirigir, mas depois de sofrer um acidente não conseguiu mais, tem uma grande possibilidade de resolver esse temor em poucos encontros. Entretanto, alguém que sempre se sentiu inseguro, em que o dirigir é mais uma das situações nas quais a pessoa se sente assim, dificilmente conseguirá superar o medo de dirigir sem cuidar dos seus outros medos e inseguranças. Mas falando um pouco mais das possibilidades de bons e rápidos resultados, em relação ao Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT) por exemplo, existem vários estudos que apresentam o controle dos sintomas (além do efeito de medicações) em 8 a 12 sessões. O medo de dirigir e a dificuldade em falar em público são outras 2 situações nas quais, em geral, o resultado é rápido. Mas o que determina ou não essa possibilidade é o histórico de cada um, o que deve ser cuidadosamente levantado nas primeiras sessões.
Daniel Gabarra é Trainer de Brainspotting, Supervisor e Facilitador de EMDR, Trainer de PNL, Especialista em Psicodrama e Graduado em Psicologia pela UFSCar. Diretor Fundador e Ex-presidente da Associação Brasileira de Brainspotting,