Hoje quero aproveitar para falar o quanto a psicoterapia, em especial o EMDR (mas não apenas), pode trazer bons e rápidos resultados quando temos um problema pontual e um trabalho direcionado. É claro que não quero falar com isso que com duas sessões você terá seu problema resolvido. Mas pra falar a verdade, teve um professor com dificuldade em falar em público, que fizemos o trabalho com EMDR em 3hs. Lógico que isso não é a regra, mas é sim uma possibilidade dependendo da situação. Um pessoa que nunca teve dificuldades para dirigir, mas depois de sofrer um acidente não conseguiu mais, tem uma grande possibilidade de resolver esse temor em poucos encontros. Entretanto, alguém que sempre se sentiu inseguro, em que o dirigir é mais uma das situações nas quais a pessoa se sente assim, dificilmente conseguirá superar o medo de dirigir sem cuidar dos seus outros medos e inseguranças. Mas falando um pouco mais das possibilidades de bons e rápidos resultados, em relação ao Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT) por exemplo, existem vários estudos que apresentam o controle dos sintomas (além do efeito de medicações) em 8 a 12 sessões. O medo de dirigir e a dificuldade em falar em público são outras 2 situações nas quais, em geral, o resultado é rápido. Mas o que determina ou não essa possibilidade é o histórico de cada um, o que deve ser cuidadosamente levantado nas primeiras sessões.
Terremotos, enchentes, tsunamis, desabamentos, tornados… Haiti, Ilha Grande, São Paulo, ABC Paulista, Machu Picchu, Cuzco, Barueri, Angra, São Luis do Paraitinga, Guaraciaba, Santa Catarina… Tudo bem, sei que catástrofes e pessoas traumatizadas vão garantir meu trabalho!!! Mas pera aí!!! Isso já não está ficando exagerado??? O ‘papo dos ecologistas’ sempre me chamou atenção, mesmo parecendo uma coisa distante, racionalmente era claro que o problema existia, e continua existindo. Mas como sempre o ser humano sempre acha que ‘isso não vai acontecer comigo’. Mas na verdade acontece, como sempre aconteceu!!! Desde criança, ouço notícias de desabamento em construções irregulares nas encostas dos morros, mas as favelas continuam crescendo e o pouco que se faz não conseguiu efetivamente mudar esse quadro. BH mesmo tem investido muito nisso nos últimos anos. Mas eu ainda fico me perguntando: ‘será que de fato isso terá um impacto?’, e olha que eu ainda acredito no ser humano!!! Mas, voltando às grandes tragédias, acredito que desde a tsunami na Ásia, ficou claro para o mundo que o ‘papo dos ecologistas’ é serio e que as consequências estão chegando mais rápido do que imaginávamos. Mas Copenhague ainda parece ser o grande exemplo de que ainda queremos acreditar que ‘isso não vai acontecer comigo’. E eu fico aqui no meu consultório, no intervalo entre uma sessão ou outra, escrevendo e pensando o que posso fazer com meu sentimento de impotência com relação a isso!!! Será que posso fazer alguma coisa? Será que escrever algumas linhas para 15 ou talvez 20 pessoas lerem é fazer alguma coisa?
Gostaria novamente de compartilhar com vocês as palavras de uma colega de profissão que muito me toca pela forma (quase poética) de falar da relação terapêutica.
“Sabe, Daniel… Desde o início, nos meus primeiros contatos com o EMDR, pude sentir que ali havia algo especial. A princípio, eu não podia precisar, exatamente, por quais princípios ele funcionava. Se era um instrumento curador ou, simplesmente, um instrumento que ajudava a ‘encobrir’ sintomas. Fui caminhando às apalpadelas, desvendando fatos, com o passar do tempo. O que sinto hoje, e o que penso sobre o EMDR, é que, uma vez nas mãos de um bom profissional frente a um paciente, (seja que paciente for), torna-se um fabuloso instrumento facilitador da integração de sentimentos, crenças e sensações que, circunstancialmente, podem estar desencontradas, aparentemente incoerentes e, portanto, disfuncionais, causando assim, dentro do paciente, algum tipo de sofrimento. O que quero dizer com ‘um bom profissional’, é: o profissional que tem o máximo respeito e uma profunda crença na força de seu paciente, tanto quanto em sua própria força, sabendo que aquele (o paciente) sabe, profundamente, o caminho a seguir, se lhes dispomos um mínimo de informações importantes (aspecto ‘educativo’), acolhimento, confiança e incentivo. Nem sempre o que funcionou com um paciente meu, funcionará com o seu, e é preciso que saibamos disso. Teorias são importantes. Mas elas assumem “tonalidades” diferentes, se aplicadas em contextos que combinam aspectos diferentes, com pessoas diferentes. Então, são muito mais as pessoas que nos procuram, cada uma delas, que nos dirão, no fundo no fundo, por onde caminhar. É preciso saber ouvi-las.”
Quando perguntei o que ela gostaria de colocar para identificá-la no blog, olha só o que ela me respondeu:
“O que você poderia colocar lá sobre mim??? Que sou uma psicóloga clínica absolutamente comum, que estou em Brasília, que tenho um profundo desejo de que possamos todos nós, psicólogos e pacientes, em cada encontro terapêutico, descobrir que podemos, porque estamos juntos, ser pessoas melhores em muitos aspectos, no nosso dia a dia.”
Um dia desses, vi a seguinte mensagem no Twitter de um colega: “@danilocollado: RT @mbelico: concordo com a carol: deviam colocar fluoxetina na água, igual tem flúor.” Fiquei pensando muito a respeito e tentando entender que tipo de idéia ou mensagem é passada com esse tipo de fala. Na verdade lembrei da necessidade de respostas rápidas e sem esforço que a maioria de nós busca a cada dia como forma de resolver magicamente os problemas. Isso me faz lembrar de uma fala, antagonista a essa idéia, do Eugênio Vilaça: “Problemas Complexos exigem soluções complexas”. Se os problemas ou dores que nos afligem são difíceis, por que alimentamos a ilusão de que uma simples pílula vai ser a tábua de salvação? Não quero dizer com isso que a medicação não é importante, muito pelo contrário. Existem casos em que a medicação é fundamental e outros nos quais ela é um ótimo adjuvante. O problema é quando encaramos o remédio como único e milagroso meio de melhorarmos. Não deposite sua felicidade em um remédio, tome-as pelas mãos e a construa com o apoio da medicação ou de qualquer outro recurso terapêutico.
Outro dia, assistindo a uma reportagem sobre mulheres ex-combatentes de guerra e TEPT* (ou PTSD) fiquei particularmente triste ao ler os comentários sobre o vídeo que, em sua maioria, eram carregados de intolerância e machismo (pelo menos do meu ponto de vista). Sei que estamos muito longe de ser um Dalai Lama para reagirmos com paz diante dos mais absurdos (e abundantes) abusos de poder que existem no mundo. Mas defender a paz, a meu ver, requer um mínimo de compaixão. Acredito que não adianta buscar esse caminho carregando ódio e rancor, quase “amaldiçoando” os países ou pessoas que não acreditam nisso. Se eu defendo e acredito na paz, devo defendê-la para todos, não apenas para alguns ou para os meus. O sofrimento imposto a uma pessoa que esteve na guerra é imensurável, e ele atinge tanto as mulheres quanto os homens, além de persistirem anos a fio se não forem tratados adequadamente. Entretanto, as pessoas que detêm o “poder” não sentem nem de longe essa dor imposta aos outro e aos seus. Aqui sim mora a verdadeira questão a ser abordada.
Daniel Gabarra é Trainer de Brainspotting, Supervisor e Facilitador de EMDR, Trainer de PNL, Especialista em Psicodrama e Graduado em Psicologia pela UFSCar. Diretor Fundador e Ex-presidente da Associação Brasileira de Brainspotting,