Gostaria novamente de compartilhar com vocês as palavras de uma colega de profissão que muito me toca pela forma (quase poética) de falar da relação terapêutica.
“Sabe, Daniel… Desde o início, nos meus primeiros contatos com o EMDR, pude sentir que ali havia algo especial. A princípio, eu não podia precisar, exatamente, por quais princípios ele funcionava. Se era um instrumento curador ou, simplesmente, um instrumento que ajudava a ‘encobrir’ sintomas. Fui caminhando às apalpadelas, desvendando fatos, com o passar do tempo. O que sinto hoje, e o que penso sobre o EMDR, é que, uma vez nas mãos de um bom profissional frente a um paciente, (seja que paciente for), torna-se um fabuloso instrumento facilitador da integração de sentimentos, crenças e sensações que, circunstancialmente, podem estar desencontradas, aparentemente incoerentes e, portanto, disfuncionais, causando assim, dentro do paciente, algum tipo de sofrimento. O que quero dizer com ‘um bom profissional’, é: o profissional que tem o máximo respeito e uma profunda crença na força de seu paciente, tanto quanto em sua própria força, sabendo que aquele (o paciente) sabe, profundamente, o caminho a seguir, se lhes dispomos um mínimo de informações importantes (aspecto ‘educativo’), acolhimento, confiança e incentivo. Nem sempre o que funcionou com um paciente meu, funcionará com o seu, e é preciso que saibamos disso. Teorias são importantes. Mas elas assumem “tonalidades” diferentes, se aplicadas em contextos que combinam aspectos diferentes, com pessoas diferentes. Então, são muito mais as pessoas que nos procuram, cada uma delas, que nos dirão, no fundo no fundo, por onde caminhar. É preciso saber ouvi-las.”
Quando perguntei o que ela gostaria de colocar para identificá-la no blog, olha só o que ela me respondeu:
“O que você poderia colocar lá sobre mim??? Que sou uma psicóloga clínica absolutamente comum, que estou em Brasília, que tenho um profundo desejo de que possamos todos nós, psicólogos e pacientes, em cada encontro terapêutico, descobrir que podemos, porque estamos juntos, ser pessoas melhores em muitos aspectos, no nosso dia a dia.”
Um dia desses, vi a seguinte mensagem no Twitter de um colega: “@danilocollado: RT @mbelico: concordo com a carol: deviam colocar fluoxetina na água, igual tem flúor.” Fiquei pensando muito a respeito e tentando entender que tipo de idéia ou mensagem é passada com esse tipo de fala. Na verdade lembrei da necessidade de respostas rápidas e sem esforço que a maioria de nós busca a cada dia como forma de resolver magicamente os problemas. Isso me faz lembrar de uma fala, antagonista a essa idéia, do Eugênio Vilaça: “Problemas Complexos exigem soluções complexas”. Se os problemas ou dores que nos afligem são difíceis, por que alimentamos a ilusão de que uma simples pílula vai ser a tábua de salvação? Não quero dizer com isso que a medicação não é importante, muito pelo contrário. Existem casos em que a medicação é fundamental e outros nos quais ela é um ótimo adjuvante. O problema é quando encaramos o remédio como único e milagroso meio de melhorarmos. Não deposite sua felicidade em um remédio, tome-as pelas mãos e a construa com o apoio da medicação ou de qualquer outro recurso terapêutico.
Na prática clínica, nossos clientes nos trazem problemas, dificuldades e barreiras que enfrentam no seu dia a dia. Claro que estamos aqui para ouvir e auxiliar com essas questões. Afinal de contas, se não fosse por esses problemas, nós, terapeutas, não seríamos procurados. Mas o que acontece é que, se não perguntarmos, os clientes dificilmente trazem de forma espontânea os resultados e conquistas alcançados. Se eu estivesse escrevendo para Psicólogos e Terapeutas, abordaria a importância de sabermos dos resultados para confirmar se estamos ou não no caminho certo. Ou também poderia abordar o quanto isso é fundamental para o trabalho ao valorizar as conquistas alcançadas, enquanto método de fortalecimento e busca de melhoras. Mas como meu público é outro, gostaria apenas de lembrar que terapeuta também é ser humano e, como qualquer outro, gosta de saber do resultado do seu trabalho, ainda mais quando este trabalho é de parceria.
Ao ler o título acima, vocês podem pensar que vou falar da parceria entre diferentes profissionais para oferecer um serviço de qualidade a seus clientes. Claro que esse tipo de parceria é muito importante e de grande ajuda. Mas, na verdade, quero falar hoje sobre o quanto a terapia em si é, acima de tudo, uma parceria. A parceria terapêutica existe na relação entre Cliente e Terapeuta, e é fundamental para que existam resultados nesse processo. Será que adiantaria o terapeuta ter um relato completo e detalhado da vida do cliente, fazer um plano de tratamento com todos os passos que devem ser seguidos e, simplesmente, passar semana após semana para que seja executado? Vejamos um exemplo: suponhamos que alguém chega no meu consultório se queixando da esposa e do quanto ela é parecida com sua mãe, principalmente naquilo que o incomoda. Um ótimo caminho seria trabalhar com os sentimentos dessa pessoa em relação a sua mãe. Mas aí eu pergunto, será que a pessoa está afim disso? Ou, na verdade, o objetivo é a esposa? Seria benéfico que eu, enquanto terapeuta, definisse o que é melhor, se esse melhor não faz parte do desejo da pessoa que me procurou? Entendem assim qual a importância desse aspecto da parceria que estou tentando abordar?
Hoje recebi o link dessa reportagem e achei que valia a pena compartilhar com vocês. Para quem tem uma noção de Inglês (está sem legenda), é bem interessante. Aborda um pouco as questões neurológicas do EMDR.
* Eye Movement Desensitization and Reprocessing ou Desensibilização e Reprocessamento por Movimento Oculares ** Transtorno de Estresse Pós-Traumático
Daniel Gabarra é Trainer de Brainspotting, Supervisor e Facilitador de EMDR, Trainer de PNL, Especialista em Psicodrama e Graduado em Psicologia pela UFSCar. Diretor Fundador e Ex-presidente da Associação Brasileira de Brainspotting,